“Quando vires um homem bom
Tenta imitá-lo; quando vires um
homem mau, examina-te a ti mesmo.”
[Confúcio]
Desde o
início do planejamento para o Rally M+is – Transamazônica, a ideia de viajar de
carona me pareceu uma solução óbvia para reduzir os custos da viagem, da mesma
forma que eram óbvias as implicações e risco “bilateral”. Certamente eu não ia
contar com algum aplicativo de caronas ou mesmo uma central de informações ou,
ainda, agenciamento das disponibilidades desta modalidade de transporte
alternativo.
Dar carona
é um ato de fé; de crença na bondade do ser humano. É, sem sombra de dúvida,
uma entrega de confiança mútua: os riscos estão dos dois lados da boleia.
Tenho plena consciência disso pois sempre fui adepto da carona: sempre dei ou
peguei carona desde a época de adolescente. Outro fator que sempre tive
consciência era do fato de que se de um lado existe a solidariedade, do outro
lado existe a desconfiança e a falsa percepção de que todo carona é um
marginal. Neste aspecto, qualquer pessoa que se aventure nas estradas a pedir
carona é, imediatamente, equiparada a ladrões e prostitutas, para dizer o
mínimo.
Assim, no
“trecho”, para usar uma expressão da estrada, não há porque estranhar ou
sentir-se indignado quando alguém te olha de forma estranha ou desconfiada ou
até mesmo coloca em palavras suas suspeitas. Hão há o que reclamar; não há o
que ofender-se. Muito pelo contrário, neste caso, reafirmo minhas convicções
sobre o sistema de transporte e a responsabilidade bilateral, afinal, as duas
partes colocam suas vidas nas mãos um do outro.
No outro
lado da moeda está o risco do álcool e das drogas consumidas em larga escala
por boa parte dos caminhoneiros. Não é difícil encontrar profissionais do
volante visivelmente embriagados ou drogados segurando um volante: aqui o risco
é do carona.
Há inimigos
dos dois lados da boleia, felizmente eu só encontrei profissionais de verdade,
caminhoneiros que se orgulham da sua profissão e não se “sujam” por qualquer
besteira. Caminhoneiros a quem posso, sem reservas, chamar de irmãos. Pelas
histórias de cada um deles; pela curta parceria nos trechos viajados; pela
contribuição ao nosso projeto; valeu a pena a nossa homenagem a um caminhoneiro
chamado João. Neste caso, é pertinente a lembrança de um de suas frases
prediletas: “Prudência e papa de aveia nunca fizeram mal a ninguém”. Então, a
entrega fica para os dois lados da boleia e vamos em frente!
[Sousa, Vital. Empreendimento Sem Fim. Recife, 2015]