"Alguns homens veem as coisas como são,
e dizem 'Por quê?' Eu sonho com as coisas
que nunca foram e digo 'Por que não ?'"
[Bernard Shaw]
Tenho plena
consciência de que tudo que passei e relato neste livro é uma ínfima porção da
realidade da Transamazônica e da vida do seu povo, bem como uma ínfima parte do
dia-a-dia dos meus companheiros de viagem: os Caminhoneiros.
A história da
Transamazônica bem poderia ser um exemplar texto do realismo fantástico, digno
de Gabriel Garcia Marquez. As Macondos se multiplicam às margens da BR - 230.
As histórias e lendas sobre seus construtores e seus atuais habitantes são tão
ricas que muitas delas mereceriam um livro à parte.
Conversando com o
proprietário de um Posto de combustíveis, Ponto de Apoio de Caminhoneiros em
Apuí (AM), consegui sintetizar toda a história da Transamazônica em uma única
palavra: absurdo. A BR 230, a famosa Transamazônica, é um absurdo. Pelas milhares
de vidas perdidas em sua construção e nos quarenta anos de acidentes de
percurso; pelos investimentos públicos jogados igarapés abaixo; pela falta de
comprometimento dos sucessivos governos, em todos os níveis, que só lembram
desta obra inacabada em tempos de eleição; pelas possibilidades de riquezas não
exploradas; pela exploração irregular da floresta... a lista de absurdos é
infinita: infinita como a construção deste Sonho Fantástico.
Na reta
final do percurso, um pensamento não sai da minha cabeça: a expressão “empreendimento
sem fim” tornou-se um incômodo “grilo”. Desde o inicio do mapeamento de nossa Planilha,
a frase foi usada de forma negativa, para descrever algo interrompido,
inacabado, mas com o tempo, começou a ganhar outra acepção. Passou a dar
significado para o ciclo de vida, a linha do tempo de tudo que estávamos
construindo. A ideia da criação do i2 - instituto
integrum era por si só a ideia de um “empreendimento sem fim”.
Não por
acaso o a ilustração que encabeça cada capítulo deste livro é uma teia de
aranha. De todos os símbolos relacionados com um Rally, que seria mais
apropriado usar como ilustração, nenhum tem a “aderência” de uma teia de aranha
que para mim representa a determinação necessária no empreendedorismo, além de
ser, naturalmente, o símbolo de nosso objetivo maior: construir uma Rede Social,
na acepção literal da expressão. O acaso, ou a conspiração do universo, se fez
presente para definir a capa do livro, fechando o ciclo de fundamentação para o
seu título e subtítulo: 50 Anos Em 05 – Empreendimento Sem Fim.
Quantas
teias uma aranha tece durante sua vida? Quantas vezes ela reconstrói sua
aparentemente frágil fonte de recursos e sustentabilidade? Não consigo imaginar
respostas para estas perguntas, minha mente é imediatamente inundada pela
lembrança de uma música da infância, bem apropriada para o momento que finalizo
minha narrativa explicando as motivações para a escolha da ilustração que
encabeça seus capítulos, bem como do para a escolha do título e da capa do livro...
“A dona aranha
Subiu pela parede
Veio a chuva forte
E a derrubou
Subiu pela parede
Veio a chuva forte
E a derrubou
Já passou a chuva
O sol já vai surgir
E a dona aranha
Continua a subir.”
O sol já vai surgir
E a dona aranha
Continua a subir.”
Será que
algum empreendedor, além de mim, identifica-se com a D. Aranha? Em especial com
sua determinação e porque não dizer obstinação em subir pela parede? Eu sempre penso
nessa aranha, a razão pela qual ela obstinadamente sobe pela parede. Lembro-me
de 2 (dois) empreendedores que uso nas Palestras CHA Empreendedor: Soichiro
Honda e Thomas Edson tão obstinados quanto D. Aranha. Minha conclusão é que o
objetivo da aranha é colocar no alto da parede o primeiro nó de sua teia. Toda
dificuldade da escalada para, apenas, começar sua tarefa: empreender.
Inicialmente
a expressão “empreendimento sem fim” estava presente em toda discussão do Warm
Up do Rally M+is – Transamazônica. Era a expressão favorita para
descrever A Rota dos Atoleiros Amarelos. Sua ambiguidade deu o toque
final para que eu pensasse nela como subtítulo e finalmente como título deste
Diário de Bordo com pretensões de Manual de Empreendedorismo.
Quando descrevi
no esboço do projeto a BR – 230, a famosa Transamazônica, usei esta expressão
de forma negativa, afinal o que se espera da construção de uma estrada é que
ela seja concluída, tenha fim, o que não aconteceu com a BR em questão. Por
outro lado, “sem fim”, também, significa algo duradouro, sustentável, como espero
que sejam os negócios de todos e cada um dos empreendedores para quem este
livro puder, de alguma forma, tornar-se útil.
Espero que
estes empreendedores e os simples leitores deste Diário sejam os nós para a
teia, cuja construção iniciamos em 12-jan-2015, às 05:22.
[Sousa, Vital. Empreendimento Sem Fim. Recife, 2015]