Passados vinte anos dede o lançamento do Plano Real e da
estabilização da Economia, confesso que assisto aos Telejornais e vejo o
recrudescimento da inflação com profunda preocupação.
Para quem não lembra ou não viveu este Evento, trago uma
avaliação do Economista Joelmir Beting que sintetiza as razões para a
implantação deste importante programa de reformas econômica:
“Aqui jaz a moeda que acumulou, de julho de 1965 a junho de
1994, uma inflação de 1,1 quatrilhão por cento. Sim, inflação de 16 dígitos, em
três décadas. Ou precisamente, um IGP-DI de 1.142.332.741.811.850%. Dá para
decorar? Perdemos a noção disso porque realizamos quatro reformas monetárias no
período e em cada uma delas deletamos três dígitos da moeda nacional. Um descarte
de 12 dígitos no período. Caso único no mundo, desde a hiperinflação alemã dos
anos 1920”.
Olhando esses números, fico imaginando o que deve estar
pensando os milhões de novos gestores e empreendedores que ainda estavam nos
cueiros quando a inflação campeava Brasil afora como um enorme paquiderme,
ostentando índices inimagináveis para os dias de hoje.
Imagino os setores de Informes Gerenciais das grandes
corporações queimando as pestanas e os processadores de última geração para
montar cenários que permitam maiores níveis de previsibilidade na última linha
dos Demonstrativos de Resultados. Por outro lado, imagino uma legião de novos
Micro Empreendedores Individuais e Micro Empresários, sem os recursos da
moderna TI – Tecnologia da Informação, dando voltas em gota d’água para manter
positivo o Fluxo de Caixa. Em ambos os casos, descontados os efeitos da
inflação e convertidos os demonstrativos para uma moeda constante, os
balancetes traduzirão a realidade? Acredito que não. Acredito que estes novos
gestores e empreendedores estão mais perdidos do que cego em tiroteio. Ou
melhor dizendo: mais perdidos que balas de tiroteio. Sim balas, balas perdidas
em rota de colisão não se sabe com o que.
Além do visível aumento de preço dos insumos e serviços e da
consequente dificuldade de manutenção das margens de lucratividade, outro ponto
que chama a atenção, para leitores mais atentos, é a profusão de cursos e
treinamentos voltados à qualificação de gestores e empreendedores para o
convívio com uma economia instável, com inflação de dois dígitos. “Gestão de
Estoques para os Novos Tempos”. Novos Tempos? É assustador o revival deste título de work shop direcionado para gestores do
Varejo. Me faz ouvir o barulho das etiquetadoras de preço de triste lembrança.
“Gestão e Planejamento Financeiro em Tempos de Crise”; “Gestão de Custos e
Planejamento Financeiro”. Os títulos dos treinamentos são de dar medo a
qualquer empreendedor. Para os mais atentos soam como um alerta para redobrar a
segurança nas planilhas de custos: é hora de reforçar e garantir as provisões.
Se você é Empreendedor e não está se achando neste texto,
acredito que está na hora de fazer outro Curso bastante comum no portfólio de
Empresas do ramo: “Contabilidade para Não Contadores”. Indo além na preocupação
pela transparência das finanças dos novos gestores e empreendedores, sugiro um
curso de “Glossário de Finanças em Tempos de Hiperinflação”. Conta Corrente
Remunerada, Overnight, Float entre outras precisam rapidamente
volta ao nosso vocabulário para garantir o poder aquisitivo de nossos ativos.
Neste momento, torna-se, estrategicamente, necessário o papel
das entidades de Classe na promoção da união. Como diz o velho jargão do Associativismo,
“a união faz a força”. Eu prefiro repetir o que já escrevi em outro artigo: “a
união se faz à força”. No caso, à forma de muita mobilização porque os
principais interessados encontram-se perdidos e não fazem a menor ideia do que
os aguardam, no caso de continuarmos com a atual Política Econômica.
Para não sermos atingidos por balas perdidas, façamos nosso
papel dentro da cadeia de informação do empreendedorismo. Isto posto, conclamo
Associações de Classe para analisarem a criação de Câmaras Setoriais para
discussão dos temas abordados neste artigo e para promover a necessária
qualificação dos novos Gestores, Micro Empreendedores Individuais e Micro
Empresários para conviver com a inflação de forma sustentável, sem jogar toda a
carga de responsabilidade nas costas do Consumidor.
Vital Sousa
integrum Consultoria